quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Capitulo 38: Uma longa noite


   A cada segundo que se passava era um sufoco a mais, eu sentia que minha vida estava por um fio. Angélica ainda mirava a arma em minha direção, eu estava em desespero e com medo de que a morte me chicoteasse.
-Mas é claro que não vou te matar agora, quero vê você sofrer.
-Você acha mesmo que eles não vão descobrir?! Sua vida vai virar um inferno se fizer isso.
-Minha queridinha eu já estava planejando isso há meses, enquanto você achava que estava namorando meu filho eu planejei minuciosamente cada detalhe de como iria acabar com você.

    Rebeca estava frágil e chorava muito.
-Por favor Angélica não faça isso, me solte daqui eu pensava que gostasse de mim. E seu neto que estou esperando?!

   Angélica estava descontrolada e sem hesitar apontou a ama para Rebeca.
-Cala a boca Rebeca, confessor que a principio pensava que tu era inteligente. Você teve várias chances de ficar com Gustavo, o que você conseguiu foi ficar grávida dele e como consequência o desprezo dele. Você é uma imbecil mesmo. Mas eu sei o que farei, você é parte fundamental do meu plano.
-Que plano? Deixa-me em paz fora de suas jogadas..Rebeca estava em desespero.
-Vou explicar para vocês duas. Todo mundo sabe que vocês duas sempre disputaram o mesmo homem, que tal uma troca de tiros forjado entre vocês duas. Você Rebeca vai ser a culpada por matar o filhinho daquela vadia, e ela protegendo seu filho vai te matar e suicidar-se pela sua cria. Um bom plano né? A polícia é burra e sempre faz aquilo que é mais fácil e ao seu alcance.

 -Você acha mesmo que isso vai dar certo?! Para isso existe digital e pericia sua anta..Falei tentando engolir meu choro, mas não deixava de ser irônica.

  Angélica virou-se furiosa em minha direção apontando aquela arma.
-Para isso existe o fogo né neném? Para isso estou com essa luva para esconder minhas digitais e pegar suas digitas e da Rebeca, eu tenho duas armas. Você acha mesmo que eu vou deixar algo dá errado. Sem vocês duas no meu caminho posso estar livre para voltar ter a mesma vida de antes.


  No mesmo momento ouvi meu filho gritando pedindo por ajuda.
   Eu só ouvia o choro de desespero do meu filho buscando conforto, meu coração acelerou e meu instinto materno me fez começar a retorcer toda pedindo para Angélica me libertar.

-Pode ficar quietinha aí sua vagabinha.
-Me solta daqui pelo amor de Deus, quero meu filho, quero estar ao lado dele. Em qual quarto ele está?...Eu estava em desespero.
-Ele está no seu ex quarto, mas devo confessar que ele é um pulgueiro, nossa como você é brega. Que quarto mais criancinha.
-Você fala isso pois não teve uma família que desse amor e carinho, quando o inverno chegava seus pais não te dava um abraço para anima-la. Você cresceu num mundo sem amor e compaixão, pai traindo mãe, mãe traindo pai e você sendo jogada para o lado. Eu sei disso o Gustavo me contou.




   Angélica estava furiosa, acho que não devia ter tocado no passado. Seus olhos ficaram arregalados, seu rosto estava com uma cara de ódio.
-Já chega desse bla bla bla, essa foi minha vida sim, mas agora passou!! Eu já cansei desse bate papo, pronta para morrer!!

Rebeca entrou em desespero ao ouvir a palavra morrer, ela começou a se debater, gritar e chorar.
-Por favor Angélica não me mata!! POR FAVOR!! SOCORRO!!SOCORRO!!
-Cala a sua boca Rebeca se não vai ser a primeira.
-Eu não quero morrer!Eu não quero!!..Rebeca se debatia com os pés amarrados.

   Angélica em uma atitude rápida enfiou a cabeça de Rebeca na poltrona fazendo-a desmaiar, depois disso tirou as correntes das pernas a deitou no chão e a amarrou com um pedaço de pano.
-Você tem muita sorte em estar viva ainda Rebeca. Eu te falei há muito tempo para tomar uma providencia com essa menina e você falhou, agora pagará com suas consequências. Sei que há um neto meu ai, mas não posso arriscar, estou com a faca e o queijo na mão.

   Eu estava horrorizada com aquela cena, o interesse estava falando mais alto do que tirar a própria vida da mãe de seu futuro neto. Em questão de segundos ela voltou apontar o revolver para Rebeca e com uma voz fraquejada falou:
-Eu sinto muito ter que fazer isso com você Rebeca, mas você é essencial parte do meu plano

    De repente a fechadura da porta se mexeu desviando atenção de todos no local, quando de repente Gustavo entra em um movimento de espanto ao se debater com aquela cena de massacre.
-O que está acontecendo aqui?
-Filho você não estava em viagem?
-Estava, mas o que significa isso?! O que você está fazendo com uma arma apontada na cabeça de Rebeca?! O que Bia está fazendo amarrada naquela cadeira?!...Gustavo falava em choque ao olhar a sua própria mãe como um monstro que havia se tornado.
-Gustavo por favor salva agente dessa mulher, ela está nos ameaçando de morte. Ela está fora de controle. Olha o que sua mãe está se transformando.
-Cala a boca Beatriz!!  Gritou Angélica.

 -Não manda ela calar a boca sua imunda. Já estou cansado de ver suas maldades e não fazer nada. Você me envergonha diante essas pessoas, olha que ponto você chegou para querer sua vidinha de volta. Mas sinto lhe informar, você nunca mais terá aquela vida. Você acha que se ganha algo matando?!! Isso é nojento da sua parte, tenho vergonha de ser chamado de seu filho e carregar seu sobrenome!
   Gustavo estava em fúria apontando o dedo sem parar em direção a sua mãe, eu podia perceber seu tom de decepção mesmo no meio de tanta raiva.

   Angélica colocou a arma no chão e se aproximou de Gustavo, Gustavo fez um olhar renegando sua mãe.
-Filho me escuta.
-Não me deixa, eu não estou reconhecendo você...Interrompeu Gustavo.

  Angélica se aproximava de Gustavo aos poucos, seus belos azuis lacrimejaram.
-Filho você viu o que nossa vida se tornou desde quando essas duas entraram em nossa vida.
-Mas matar mãe?! Nunca faria isso e nem permitirei você fazer isso.
-Filho eu te amo muito e quero seu bem, por favor saia daqui... Angélica delicadamente colocou a mão sobre o coração de Gustavo.
-Se você quiser matar essas duas terá que me matar também...Os olhos de Gustavo perderam aquele brilho ao falar isso.
- Se for preciso fazer isso para vivermos em paz eu te mato, assim você terá sua paz e vida eterna no céu.
Gustavo arregalou e seus olhos ao ouvir tais palavras assustadoras.
-Você tem coragem de matar o próprio filho a sangue frio?! Que argumentos ridículos são esses? Eu vivi durante anos com esse monstro chamando de mãe que você é!

   Gustavo estava em choque com aquelas palavras de Angélica, ela ameaçou o próprio filho de morte, que mulher é essa?! Gustavo ainda em choque e saiu andando como se um todo fardo do mundo estivesse em suas costas.
-Filho olhe para mim?!
-Eu vou embora desse mundo, quero esquecer que isso existiu um dia. Que um dia você foi minha mãe e que vive nessa cidade..Gustavo falava traumatizado, seu corpo estava tremulo e sua voz fraca, também com uma mãe monstruosa dessa se revelando quem não ficaria desse jeito.
-Filho?!
-Não me chame assim sua vadia... Falou Gustavo batendo a porta com toda a força.

   Angélica voltou mantendo a pose, mas pude perceber que o que havia acabado de acontecido havia mexido com seus sentimentos.
-Onde nós paramos, a lembrei-me eu ia te matar.
-Angélica pensa no seu filho, ele está magoado com suas atitudes, ver a mãe matando por interesse é uma coisa que é frustrante. E o que você disse para ele?! Como você acha que ele reagiu com aquelas palavras? Você é tão cruel, mas agora te acho nojenta por ameaçar seu próprio filho.
-Beatriz minha queridinha você acha mesmo que eu iria encostar minha mão nele? Eu conheço como meu filho é persuasivo, aquilo foi um blefe. Mas quer saber, eu não vou te matar.
Quando ouvi essas palavras suspirei de alívio.

 Angélica se virou e retirou um galão vermelho atrás do sofá, meu coração disparou e uma sensação de perigo subiu entre minhas entranhas.
-O que está fazendo?! Falei ao sentir o cheiro de gasolina sendo jogado no estante de livros.
-Eu disse que não vou te matar.
-Então isso significa o que?
Angélica espalhou a gasolina por partes da sala.

  Angélica tirou do bolso um isqueiro, meu coração estava a mil e ao ver que ela estava disposta a fazer aquilo mesmo senti uma agonia subindo pela minha alma. Ao ouvir o famoso barulho de isqueiro e em seguida aquela pequena chama de fogo saindo senti meu coração gelar.
-Eu te disse que não ia te matar, mas o fogo vai te matar a menos que você consiga fugir o que eu duvido muito.

   Vi diante de mim o meu mundo desmoronar, aquele cheiro forte de gasolina espalhada pela sala e aquela mulher psicopata que estava diante de mim fizeram-me refletir a que fim eu cheguei. No fundo eu queria acreditar que sobreviveria mas algo me dizia que eu estava à beira da morte.

   Angélica incendiou a estante de livros e rapidamente o fogo a consumiu inteira. Angélica olhava com um olhar vitorioso diante de mim.
-Se você quiser me matar tudo bem, mas por favor salve meu filho disso, ele tem tanto o que viver ainda. Eu te imploro.

 Angélica passou friamente sobre mim e com um olhar maldoso falou:
-Ele terá o mesmo fim que o seu, vou colocar o fogo. Mas pensa por um lado né queridinha. Um dia agente paga as contas no inferno ai você pode se vingar de mim.

  Os minutos se passaram e para meu desespero o fogo estava consumindo grande parte da sala, Rebeca ainda estava deitada no chão desmaia. Eu tentava por tudo gritar por socorro mas ninguém devia estar ouvindo, essa casa é tão longe do centro da cidade.

 Angélica voltou rindo de minha cara por pedir ajuda.
-Você é uma trouxa mesmo né?! Seus últimos segundos vai passar gritando por ajuda?!
  Olhei nos olhos dela e senti uma fúria de mãe subindo pelo meu corpo ao lembrar-me do meu filho novamente que estava preso no quarto do andar de cima.
-Cadê meu filho sua desgraçada?! Cadê ele?!! Solte ele sua vagabunda imunda, o problema aqui é entre eu e você, solte ele!! Eu gritava bem alto tentando me soltar das correntes presas ao meu pé, elas machucavam muito, mas por mim eu amputaria meu pé para salvar meu filho.

 -Seu filhinho vai virar churrasquinho feito a vaquinha da mamãe que ele tem. Esse é o preço que você está pagando por se tentar se vingar com a pessoa errada. Agora aprenda Beatriz e reflita em seus últimos minutos de vida antes de virar churrasco: Vingança pode ser bem doce no começo, mas no fim a vingança se torna sua verdadeira morte.
  Eu olhei profundamente nos olhos de Angélica e mais uma vez na tentativa de conseguir abrir seu coração eu implorei em fazê-la desistir disso: - Então use suas palavras com sabedoria e me solte daqui, eu também aprendi com a vingança, aprendi que ela pode machucar todos em nossas voltas assim como pessoas que amamos muito.

   Quando Angélica foi falar surgiu uma pessoa atrás dela e lhe enfiou uma pancada fazendo-a cair desacordada no chão. Quando olhei atentamente para ver quem era a pessoa me assustei ao ver Gustavo.

 -Você?! Falei assustada.
-Eu te falei que ia protegê-la até o ultimo segundo, além disso, essa mulher aqui é a culpada pelo inferno em que minha vida se tornou, eu não posso deixá-la fazer isso com você.
-E nem com a mãe do seu filho...Falei olhando para a Rebeca e ao mesmo tempo se referindo a mim.
-Sim e com a mãe do meu filho..Gustavo deu um breve  suspiro ao falar isso.

 -Onde estão às chaves de suas correntes vou te soltar e você estará livre para viver sua vida.
  Eu não podia mais esperar Gustavo devia saber de tudo nesse momento, eu  ouvi um barulho de fogo intenso vindo de cima, eu prefiro a vida do meu filho do que a minha.
-Não Gustavo eu não quero que me solte primeiro.
-Como assim?! Falou ele interrompendo.
-Meu filho está lá em cima preso no meu antigo quarto, eu lhe imploro que salve a vida dele.
-Seu o que? Gustavo se assustou.
-Meu não..Falei com coração na mão e com lágrimas em todo meu rosto. Dei uma pausa respirando profundamente e continuei: - Nosso filho, o que agente teve há quase onze anos atrás e que foi responsável pelo meu desaparecimento. O filho pelo qual descobri que estava esperando no dia da formatura em que escutei aquelas coisas e fugi, aquele que nasceu do meu ventre e me mostrou o que é ser uma mulher de verdade, foi aquele que eu ensinei a andar e o vi crescendo a cada segundo parecendo cada vez mais com o pai.

   Gustavo ao ouvir essas palavras arregalou novamente seus olhos azuis e ficou imóvel.
-O que você está dizendo? Eu sou pai de um filho seu.
-E ele está lá em cima trancado num quarto que está pegando fogo, possivelmente possa estar a beira da morte se não morto...Falei chorando ao pensar na possibilidade.
-Por que você nunca me contou?
-Preciso te explicar? Apenas salve ele e se caso algo aconteça fala para ele que o amo muito.

   Davi deu um berro gigante pedindo ajuda, Gustavo no mesmo tempo correu em direção à escada.
-Desculpa por tudo Gustavo, eu não queria que você soubesse dessa forma. Sei que é um choque muito grande para você e também será para nosso anjinho já que ele também não sabe da verdade.

   Enquanto Gustavo subia correndo a escada suspirei profundamente e me desabei no choro.
-Eu tenho um filho..Gustavo se demonstrava emocionado.

   Ao chegar ao segundo andar Gustavo se deparou com chamas como se quisessem o dominar. Ao ouvir o choro estrondoso de Davi correu até a porta e falou.
-Afaste-se da porta que irei derrubar.

   O fogo só se alastrava pelos cantos daquele aposento, o calor só aumentava com o tempo e a maldita fumaça só fazia atrapalhar.
Com toda força Gustavo deu uma sequência de chutes na porta que fez a abri-la.

 -Você está ai garotinho?
Ao ver Davi pela primeira vez na vida Gustavo se assustou, ao mesmo momento que ele via seu filho via também seu reflexo na infância. Sua reação era mais do que esperada, um choque inerente tomou conta da cena, mas o choque também foi grande para Davi que via um homem parecido com ele mesmo não sabendo quem era.

   Davi sempre fora ensinado direito como agradecer bons modos, e diante de uma cena como essa em que um pai que mal sabia que tinha um filho e o filho mal sabia que tinha dois pais. Como gesto em que o amor de paternidade e fraternidade estava e ascensão os dois em lágrimas se abraçaram fortemente.

   A casa já estava com as estruturas abaladas e começaram a cair detritos do teto da casa. Gustavo percebeu que logo tudo iria ser consumido pela chama e a casa iria cair. Com um gesto heroico Gustavo jogou Davi em suas costas e correu em direção a escada enfrentando o fogo, calor e a fumaça para salvar a vida de seu filho.

   Após muito tempo de ansiedade que consumia meus pensamentos e a dor aumentava mais ainda senti alívio ao ver Gustavo com Davi, mas ao mesmo tempo emocionada em ver uma cena tão simbólica na minha frente, o pai tentando salvar seu filho.
Ao me ver amarrada rodeada de fogo Davi entrou em desespero e tentou se soltar para ir até a mim.
-Me solte!! Mamãe, mamãe,mamãe!! Foram essas as palavras que ouvi ao meio de choro e lágrimas sendo derramadas.
-Fique calmo filhinho, a mamãe vai ficar bem..Falei tentando conter o choro pois eu não sabia se isso era verdade, o fogo já consumira boa parte da sala , o calor estava imenso e a fumaça sufocante.

   Olhei profundamente nos olhos do meu filho e uma sensação de despedida ficou no ar, olhei fixo em seus belos olhos azuis assim como o do pai e falei do fundo do meu coração.
-A mamãe te ama muito filho, fique forte e seja feliz.

 -Eu vou voltar para te salvar Bia, isso é uma promessa...Gustavo ainda estava emocionado com tanto acontecimento em questão de poucas horas. Mas que não ficaria?
-Salve ele Gustavo, ele é a coisa mais importante que tenho.

   Depois de passar por uma porta flamejante de fogo Gustavo finalmente havia chegado no exterior da casa, Davi estava chorando em silencio, seu psicológico estava abalada com tantas coisas.

 Gustavo o soltou e deu um abraço forte.
-Eu quero que você corra para bem longe e pegue meu celular e ligue para os bombeiros..Falou Gustavo retirando o celular do bolso e entregando ao seu filho.
-E a mamãe? Falou Davi chorando.
-Vou voltar lá dentro e vou salva-la, mas me prometa que vai ficar longe dessa casa pois está perigoso ficar aqui perto, me promete?!
-Se você vai salvar a mamãe te prometo fazer isso.. Gustavo nunca viu o sorriso belo que seu filho herdara de si, seus olhos novamente lacrimejaram e num súbito momento de emoção deu um abraço forte em Davi novamente.

 Depois do abraço apertado e emocionado Gustavo pegou nos ombros de Davi e sorriu.
- Eu sei que você não está entendendo nada, mas posso te garantir que logo saberá. Queria tanto ter visto você crescer, sei que você vai se tornar um grande homem, um homem que eu não fui. Prometa cuidar da sua mãe caso aconteça algo lá dentro?
-Eu não sei quem você é, mas algo me diz que você sim é um grande homem. Obrigado por ter me salvado... Davi estava com os olhos cheios de lágrimas, ele estava crescendo.

   Gustavo viu Davi correndo para a rua e ficou observando-o atentamente a cada passo, ele sentia que algo estava prestes acontecer, mas não sabia o que.
-Eu te amo filho, me perdoa por não poder te ver crescer.
  As palavras de Gustavo foram sem pensar, mas veio do coração e do sentido de que o toque do destino ia fazer algo grande essa noite.

   Quando Gustavo voltou novamente a sala passando pela nuvem de fumaça viu sua mãe engatilhando o revolver em minha direção. Confesso que estava em desespero.
-Você acabou com minha vida e fez meu próprio filho se virar contra mim, eu posso ser presa mas eu te mato agora!!!
-Por favor Angélica tenha piedade de mim, agora que Gustavo sabe que temos um filho podemos viver em paz, ele poderá ver toda semana o filho que tivemos, deixe a mãe de seu neto viver.

 -Por favor mãe deixe a mãe do meu filho viver e vamos viver feito uma família normal. Eu te imploro minha mãezinha, eu te perdoo tudo que fez e finalmente podemos viver feliz, quem sabe essa seja a nossa primeira vez que viveremos feito uma família.
-Filho desculpa mas eu não posso fazer isso, me perdoa, mas essa mulherzinha vai ter que morrer.
Angélica engatilhou a arma e apontou em direção da minha cabeça, fechou seus olhos.

   A fumaça em alta, o calor queimando a nossa pele como se fossem um inferno flamejante, os sentimentos sendo destruídos e muita dor por ver a vida chegando ao fim. Foi assim que vi minha vida chegando ao fim
  Soltei um berro gigante de dor e um barulho de pólvora sendo estourada e respectivamente a bala saindo foram as ultimas coisas que vi, fechei meus olhos e esperei a bala entrar em meu corpo.

   Segundos se passaram depois do barulho da arma e eu não sentia nada, ao abrir meus olhos vi um barulho de dor, Gustavo havia se jogado em minha frente para eu não receber o tiro, mas a bala o atingiu em cheio.

   Gustavo tentava se manter firme, mas algo lhe impulsionava a cair diretamente no chão. As luzes para ele estava ficando escuras, um leve gemido de dor ele soltou.
Ao ver o estado em que ele se encontrava eu soltei um berro e logo em seguida disparei a chorar.
Em algumas frações de segundos Angélica começou a passar mal ao ver o que tinha feito, ela havia condenado o próprio filho a morte.
-O que eu fiz? Falou Angélica colocando a mão sobre a cabeça.

   Gustavo não resistiu e no chão caiu duro como pedra, a morte havia cruzado em seu caminho.
  Ao ver o filho naquele estado Angélica entrou em desespero e começou a chorar,  jogou a sua arma no chão e ajoelhou-se ao lado do seu filho que havia acabado de matar .
-Meu filhinho o que eu fiz? Meu filho? Filho abre os olhos para mamãe? Filho?Filhooo?Filhoooo acorda!!! Angélica chorava ao ver seu filho com um tiro em que ela própria havia dado.

   E eu? Eu estava chocada com a violência com aquela cena, e de como o que eu falei havia acontecido. A buscar por vingança só machucou as pessoas próximas a ela.
  O mais chocante de tudo era ver o cara que eu mais amei em minha vida deitado e sem vida. Meus olhos se encheram de lágrimas ao ver que aquele restinho de amor que estava guardado em meu peito e em que aquela mágoa que sempre atrapalhou nosso amor havia se transformado em nada. Ele estava morto.

   Angélica chorava histericamente ao ver que Gustavo não se movia, sua pele foi ficando mais branca do que era e aos poucos seu corpo esfriando.
-O que eu fiz por causa de vingança? Matei meu bebê.
  Eu apenas dei um suspiro diante aquela cena triste, sei que aquele tiro era para mim e que eu devia estar rindo dela, mas ela perdeu algo muito maior, ela perdeu seu filho e respectivamente sua vida.

   Angélica se levantou tremula e foi em minha direção, retirou uma chave e tirou as correntes que prendiam meus pés na cadeira.
  Quando senti meus pés soltou fiquei aliviada, estava toda machucada. O que me impressionou mesmo foi a atitude de Angélica.

 -Pode ir embora você conseguiu tudo que queria, sua vingança está feita.
-Acho que nós duas aprendemos uma coisa com vingança. Angélica eu sinto muito pelo Gustavo, eu ainda gostava dele apesar de tudo...Falei chorando.

 Angélica pegou a arma que estava e a posicionou em sua cabeça e foi se aproximando das chamas de fogo.
-Eu não tenho motivos para viver mais.
-Não faça isso!!Há muito que se viver e perdoar aqui na terra...Falei.
-Viver uma vida de presa? De pobreza? De solidão? Não obrigada prefiro me desligar desse mundo.

 Angélica olhou para Gustavo e deu seu ultimo suspiro antes de atirar em si mesma.
-Me perdoa meu filho.

   E foram essas as suas últimas palavras, Angélica apertou o gatilho e disparou em si mesma. Seu corpo foi levado ao chão sendo consumido pelo fogo que só aumentava.

   Eu fiquei chocada ao ver apenas o corpo de Angélica sendo consumida ao fogo, eu sentia-me desnorteada e sem rumo, minhas pernas tremiam balançando de um lado e de outro. Foi quando ouvi um gemido vindo de Gustavo.

   Corri em sua direção e apoiei a minha cabeça sobre o fraco corpo dele, sua respiração estava fraca e seu pulso acabando.
-Acorda meu anjo..Falei empurrando seu corpo para frente e para traz.
-Bia...Bia...Bia.. Foram essas as palavras que ele repetia sem parar.

   Com minha força levantei-o no anseio de poder salvar sua vida. Gustavo abriu seus lindos olhos azuis, mas dessa vez estava fragilizado. Em uma singela atitude ele levantou sua mão e começou acariciar meu rosto.

 -Você me deu um belo filho, criou ele sozinho e o transformou em um garoto maravilhoso. Desculpa por não ter acompanhando você em sua gravidez, você deve ter ficado linda grávida. Você é tão linda e perfeita em tudo que faz...Gustavo novamente voltou a chorar.

 -Você ainda vai vê-lo tornar-se um grande homem assim como o pai, obrigada pelo seu gesto heroico por ter me salvado e salvado o seu filho. Eu prometo que vou fazer de tudo para você continuar vivo e com saúde.
  Gustavo segurou o choro e com um breve suspiro começou a falar sussurrando: - Eu queria ter a oportunidade de vê-lo crescer e ser tornar um homem, mas chegou minha hora e você não pode fazer nada para  mudar isso, mas só quero que saiba que eu sempre te amei, e que mesmo não sabendo que tinha um filho com você sempre soube que tínhamos algo em comum. Antes de eu ir embora queria saber, qual é o nome dele?
-Davi...Falei muito emocionada com as palavras de Gustavo.

 -Que belo nome, sinto-me completo agora ao saber que tive filho com a mulher que mais amei nessa vida. Eu posso embora em paz agora.
-Não Gustavo, você não vai morrer, lute para poder viver....Falei entrando em desespero.
-Não se preocupe meu anjo, eu estou indo feliz e em paz. Eu te amo.
-Eu te amo também.
  Ao falar isso senti Gustavo dando sua ultima respiração, seu corpo ficou mole e seus olhos azuis se fecharam mostrando o ultimo brilho dessa imensidão azul.

   Deitei seu corpo sobre o chão da sala e olhei minuciosamente a todos os detalhes de seu rosto pela ultima vez.

   Ajoelhei-me e comecei a chorar sem parar sobre o corpo de Gustavo, ao olhar aquele corpo sem vida lembrei-me de todos os momentos que vivi ao lado de Gustavo e longe dele. E agora eu estava certa de uma coisa: Se eu mudei nessa vida foi para impressiona-lo.

   O fogo começou a se alastrar pela sala toda. O calor, o sentimento de luto, a fumaça perambulavam aquela sala. Foi quando virei-me para traz e vi o fogo chegando perto de Rebeca que ainda continuara desmaiada.

 Corri até seu corpo desmaiado e desamarrei os panos que prendiam suas mãos. O fogo estava muito próximo e começando a queima-la. Se eu podia salvar algo essa noite e esquecer de lado todos os problemas e me mostrar mais humana era agora. Ali só não estava Rebeca como um filho, e minha preocupação era com os dois.

   Apesar de me sentir toda machucada e sem forças lutei comigo mesma tentando levantar Rebeca, e depois de muito esforço consegui coloca-la em meus braços. Comecei a correr em direção da porta que estava praticamente em chamas.

   Antes de sair da sala olhei o corpo de Gustavo estendido ao chão e o fogo chegando perto dele. Olhei seu belo corpo e rosto pela última vez e com lágrimas nos olhos falei.
-Boa noite meu amor.

   Sai da casa correndo com Rebeca em meus braços, eu estava toda dolorida mas lutava para conseguir sair dali o mais rápido o possível. Eu não havia olhado para traz mas ouvia o barulho do fogo alastrando a minha antiga casa.

   Avistei Davi olhando chocado tudo se queimando, o dia já estava madrugando.

 -Mamãe cadê aquele homem?
-Ele deu a vida por nós meu filho..Falei chorando ao lembrar-me de seu corpo esticado no chão e sendo flamejado pelas chamas furiosas.
  Davi se ajoelhou no chão e começou a chorar. Mesmo não sabendo que aquele homem que tinha acabado de salvar as nossas vidas fosse seu pai o sentimento interior e verdadeiro falou mais alto.

   Coloquei Rebeca no chão e me ajoelhei ao lado de Davi que chorava horrorizado com tudo o que tinha acabado de acontecer em tão pouco tempo. Abracei-o com toda minha força e coloquei sua cabeça em meu peito delicadamente, tentei transmitir esse amor de mãe que sentia dentro de mim, e ao mesmo tempo em que estava chocada em ver que a minha infância estava sendo queimada por esse fogo imenso, a única lembrança que eu tinha dos meus pais havia sumido, sentia-me aliviada por ver meu filho vivo e ao meu lado.

 -Filho agora vai ficar tudo bem, te prometo que agora nossa vida vai melhorar.
  Enquanto eu ficava abraçada com meu filho dando beijo em sua cabeça ouvi um barulho de sirene de bombeiros. Minha mente foi ficando lenta e uma sensação de tontura tomou conta de mim.

   Acordei em casa com meus cabelos amarrados em forma de coque e um lindo vestido de cetim. Minha cabeça estava doendo e minha pele estava ardendo muito. Ao recobrar meu consciente de tudo que havia acontecido levei um susto, foi quando percebi a presença de Nando no quarto.

   Sentei-me e senti dor ao mesmo tempo em que mexia lentamente, coloque meus pés no chão e dei uma respirada profunda.
-Então aconteceu aquilo mesmo?
-Sim...Nando olhava a janela.

   Levantei-me com cautela eu ainda sentia muitas dores. Fui me aproximando lentamente de Nando.
-Como o Davi está?
-Digamos que ele agora sabe da história toda, foi difícil no começo mas agora está mais calmo.
-Do que você está falando?! Como assim do começo?
-Você não se lembra Bia? Assustou-se Fernando.
-Lembrar-me de que?
-Bia você teve uma crise nervosa juntamente com um distúrbio de personalidade depois do acidente. Você estava histérica e irreconhecível no hospital. Os médios tiveram que Cedar você por um bom tempo para você recuperar e eu te trouxe para cá.
-Espera ai Nando, quanto tempo estou desacordada?
-Uma semana.
Quando Nando falou isso comecei a querer chorar.

Nando virou-se para mim e colocou sua cabeça sobre a minha.
-Eu sei que é difícil e sei o que você viu foi pior ainda, mas te garanto que agora podemos viver em paz. Gustavo foi em paz, Angélica se arrependeu no ultimo segundo, quem sabe sua alma também esteja em paz.
-Acabou né?!
-Não acabou, agora que começou..Nando deu um sorriso e um selinho em minha boca deixando a perspectiva que algo de novo e melhor estava por vir, eu não sabia o que a vida me reservava, mas agora quero aproveita-la a cada instante.


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*Bem pessoal esse foi o penúltimo capitulo, espero que gostem do último capitulo que nos reserva grandes emoções. Obrigado a todos.




6 comentários:

  1. Eita Gui! Coitada da Bia =/
    Pelo menos ela salvou a Rebeca, e ela e a Angélica se arrependeram!
    Vou esperar o último capítulo! *-*

    Abraços!
    http://portrasdeandrewbaron.blogspot.com.br/

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    1. Olá Ab
      Sim, felizmente as pessoas podem ter salvação no ultimo momento. Agora é esperar por tempos melhores para Bia. Ela merece uma vida muito boa.
      Obrigado por comentar, abraços.

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  2. choooooorei ='(
    Fiquei com tanta dó do Gustavo e achei tão linda as atitudes dele antes de morrer, não sei com o que me emocionei mais.
    Que penúltimo capitulo perfeito deeeeeemais *----*
    estou muito ansiosa mesmo pelo ultimo capitulo, foi tudo tão perfeito durante a historia.
    Essa historia vai ficar pra sempre na memoria,
    Parabéns por uma historia tão linda, Anjo *---*
    Bjos

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    1. Oiii Luh linda *-*
      Saudades de vocÊ comentando.
      O Gustavo no começo da história foi tachado como traidor, mas se mostrou um verdadeiro homem depois dessa atitude. Morreu, mas foi por amor. Uma grande virtude.
      Ah que bom que gostou *-* Fico muito feliz.
      Eu dei muito duro por essa história e fico muito feliz ao ler comentários como esses.
      Obrigado mesmo anjo *-*
      Te amo s2

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  3. Que tragédia! Bia passou por momentos de muita aflição mas ainda bem que consegui se salvar e ao filho também. Tive uma certa pena de Gustavo morrer, acho que ele não merecia isso mas a vida é assim mesmo, imprevistos sempre acontecem.

    Beijinhos!

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    1. Infelizmente Be foi uma grande tragédia no final dessa história. São momentos como esses que se desenvolvem muitas reflexões, eu escrevendo essa história aprendi a crescer com ela.
      Infelizmente Gustavo morreu, mas morreu para salvar algo bom né? Foi um verdadeiro pai e herói.
      Beijos e muito obrigado pelos comentários que sempre vocÊ faz e amo muito.

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