Capitulo 30: Primeiro dia no trabalho

   Nunca esperei tanto por um dia como hoje, lembro-me que quando criança me olhava dentro das novelas e queria trabalhar naqueles grandes prédios cheio de pessoas e muito trabalho, algo que realmente fosse importante. Porém meu pai como sempre me desiludia e dizia que queria que eu tivesse um emprego mais digno.

  Bem na verdade eu nem ligo para essas questões do passado, agora quero viver meu presente e sentir o gostinho de cada segundo que irei passar por aqui. Nunca me senti tão confiante do que estou para fazer.

   Quando a porta do elevador abriu me deparei com um sonho que havia se tornado realidade, aquelas imensas salas, um escritório de verdade, mas notei que havia poucas pessoas. De longe reconheci aquele cabelo loiro de Gustavo com sua pele pálida e suas expressões um pouco vazias.

   Quando me aproximei Gustavo fechou sua cara, uma linha de expressão de descontentamento surgiu de seu rosto embranquecido, sem pensar duas vezes deu as costas para mim e subiu as escadas. Não fiquei nada constrangida diante aquela situação, apenas soltei uma risada em forma de respiração para oprimir aquela atitude infantil dele.

Uma mulher aparentemente jovem com uma longa saia e cabelos presos chegou perto de mim.

-O que gostaria? Perguntou ela.

-Eu sou a mais nova diretora da empresa. Falei em um tom mais alto quando percebi a presença de Rebeca no local.

 -Prazer em conhecê-la dona Beatriz, desculpa pela falta de educação minha. Sou a sua secretária.

-Que isso não precisa pedir desculpas. Qual é seu nome?

-Luana, qualquer coisa que precisar é só me chamar, gosto de ser muito competente no que faço.

-Adoro pessoas competentes. Complementei

   Antes que Luana pudesse soltar alguma palavra a mais Rebeca nos interrompeu com brutalidade e cinismo.

-Com licença secretária de araque volte para sua cadeira, não se deve conversar com pessoas estranhas, ainda mais tão fafofentas e fubazentas. Deixe que eu despacho essa aqui.

-Mas... Tentou falar Luana.

-AGORA LUANA VOLTE PARA SUA CADEIRA!!

Luana tremeu nas bases e voltou para sua cadeira.

   Ficamos frente a frente, vi os olhos de fúria de Rebeca mas não me deixei intimidar como fazia antes.

-Olha como você fala com minha funcionária Rebeca, se ponha em seu lugar antes que eu...

 -Você o que?! O olhar de Rebeca se tornou mais arisco, seus olhos esverdeados ficaram como de uma cobra pronto para dar o bote, mas não deixei intimidar e retruquei o olhar ao mesmo nível. Eu sentia que a cada momento uma de nós podia pular no pescoço da outra.

 Continuou ela: - Você acha mesmo que tenho medo de você Beatriz, você para mim continua ser aquela mesma caipira de antes, que EU consegui tomar aquele único homem seu, ele é tão gostoso né? Mas tudo aquilo é meu.

 -Sabe aquela caipira?! Pois é ela é sua chefe agora e tá mandando você calar a boca e voltar para seu lugar antes que ela te demita e a deixe na rua da amargura, você acha mesmo que não sei que seu papai é falido e sua única forma de se manter rica é se casando com Gustavo.

 Continuei falando mantendo a calma.

-Mas para a sua informação vocês todos dependem de mim, esse ‘’joça’’ aqui está afundando, vocês dependem do meu dinheiro para manterem no emprego. Então sugiro que enfie seu rabinho entre as pernas e volte ao seu lugar, a proposito você não é mais gerente, você agora é secretária.

-Você não tem o direito..Falou Rebeca tremendo de raiva, faltou um latido sair da boca dela.

-Queridinha eu tenho todo o direito porque eu comprei essa porcaria.. Falei

 -Agora espero que estejamos entendidas, e quero ver mais uma vez você ficar ai ‘’latindo’’ se você vai continuar a trabalhar aqui, talvez faxineira seja a sua cara, pensando bem faxineira é um trabalho digno, coisa que você não é.

-Isso vai ter volta.

 Sai andando e falei alto.

-Já teve amorzinho, aquela garota pobre da zona rural agora é uma milionária linda e que manda no seu bando inteiro, quem deu a volta mesmo?!

   Subi a escada triunfante depois daquela discussão. Quando estava no corredor da minha nova sala a antiga sala de João Paulo vi a sala de Angélica, eu precisava me apresentar para ela no primeiro dia de trabalho.

 Entrei na sala sem bater na porta, quando entrei vi Angélica e Gustavo cochichando algo.

-Filho prometo que nos vingaremos dessa garota..Quando abri a porta ela parou bem em garota e olhou para mim como se quisesse me explodir.

   Angélica bufou como se fosse um touro enfurecido querendo atacar alguém, logo atrás veio Gustavo com os olhos arregalados.

-Filho saia daqui, preciso levar um papo com a nova diretora.

-Sim senhora.

Como sempre Gustavo era o capacho da mãe dele.

 Ela olhou para mim como se quisesse me matar.

-Ora ora a nova diretora não sabe que é falta de educação entrar onde não foi convidada.

-Estou na minha empresa.

-Sua empresa vírgula!! Gritou Angélica.

-Minha empresa sim, eu comprei essa porra com meu dinheiro.

 -Seu dinheiro mesmo?! Não foi daquele seu maridinho que você meteu a bunda e o matou?! Sua safada deu o golpe do baú nele, sabe acho que somos iguais mesmo, sabe por quê? Pois eu dei o golpe para ser rica desse jeito. Mas sabe o que nos diferencia? Eu tenho classe, já você não passa de uma garota que acha que está podendo só porque tem alguns trocados. Você continua a mesma menina imunda que encontrei fazendo putaria em minha casa anos atrás. Você é nojenta, assim como a sua família e aquele seu ex-marido corno.

 Quando ouvi aquelas palavras sobre Nando me exaltei.

-Cala a sua boca megera, eu estou pouco me lixando para suas palavras pois você é uma imunda. Você tem noção do que disse? Você confessou que matou por dinheiro. Eu tinha vergonha de ser seu filho, ainda bem que não sou sua filha. Fui pobre, mas honesta. Você não sabe nada da minha vida, não passa de uma parasita infeliz que acha que está podendo. Que tal abaixar a sua bolinha já que não está podendo. Você não está podendo nem comprar um brinco de bijuteria já que torrou tudo com seus machos sua infeliz!

 -Quer saber de uma coisa. Por que mesmo você voltou dez anos depois para essa cidade depois de ser tão humilhada? Deve ser meu filho né, ele ainda mexe com seu coração, onde há rancor há amor. Só que uma informação para você, ele está muito bem acompanhado. Alguém a altura dele.

 Tentei manter a calma e não falar nada mais ofensivo, já estava ficando exaltada.

-Realmente eles se merecem, os dois são falidos e futuros mendigos. Realmente nessa você acertou e não se esqueça de se incluir na lista.

  Me virei sem deixar Angélica falar uma palavra.

-A proposito eu se fosse você pegaria o dinheiro de volta dos seus cirurgiões, você está acaba, velha e feia. Se você quiser também te ensino uns conselhos de maquiagem, aprendi com os melhores maquiadores do mundo, você está parecendo uma defunta depredada que queria fazer programa depois que acordou do túmulo. Eu vou indo para minha sala que deu para perceber que você já está de idade e não pode cansar muito. Nos vemos depois.

-Pode deixar, logo logo você terá uma grande surpresa, vamos ver que é a velhinha.

 Quando sai da sala de Angélica dei de cara com Gustavo, ele me olhava com atenção mas não saia da frente.

-Dá para dar licença Gustavo.

 Ele não atendeu meu pedido e antes que eu pudesse andar ele abriu a boca.

-O que aconteceu com você Bia? Cadê aquela Bia alegre e humilde que eu conhecia? Eu queria tanto tê-la de volta, ser minha mulher e mãe dos meus filhos. Por que você se tornou isso?

-Não fui eu que fiz isso comigo, foram as circunstancias que você fez me tornou isso.

   Depois daquelas palavras passei o Gustavo sem falar mais nada, passei a mão na fechadura e tranquei a porta.

  Antes que eu pudesse olhar como era minha sala nova disparei a chorar.

  No fundo ele estava certo, e eu sabia, eu tento manter essa pose de durona mas meu coração é mole. Eu não sei o que sentia por Gustavo, mas aquelas palavras me fizeram chorar.

‘’ser minha mulher e mãe dos meus filhos’’

-Se você soubesse.. Sussurrei ao lembrar de Davi.

   Sentei-me na cadeira e no silencio da minha sala fiquei chorando.

  Tentei não fazer barulho para não ser notada, mas estava difícil.

  As coisas começaram a cair diante de mim, mas eu precisava me manter firme e forte.Não podia deixar de ser vencida nessa altura do campeonato.

  Depois de conseguir me recompor retoquei minha maquiagem e liguei para meu filho, só tinha se passado dois dias depois que o deixei e estava morrendo de saudades.

-Alô?

-Mamãe!! Ele gritou

-Como você está? Falei com coração apertado.

-Mamãe aqui é o melhor lugar que já vi, cheio de amiguinhos e coisas legais para se fazer. Agente vai viajar essa semana para uma ilha mamãe. Estou muito feliz.

-A mamãe está muito feliz em saber que está bem e se divertindo.

  Alguém bateu na porta.

-Filhinho a mamãe vai ter que desligar, fica com Deus ok?

-Claro mamãe, te amo muito.

Quando ele desligou o celular senti uma dor no coração, suavemente coloquei o celular no meu peito e contendo o choro sussurrei.

-A mamãe te ama muito.

  De novo a pessoa bateu na porta e eu pedi para entrar.

-Pensei que não ia abrir para sua amiga. Riu Lívia.

  Quando vi que era Lívia dei um abraço bem forte nela. Era do que eu mais precisava no momento. De um abraço verdadeiro.

-O que aconteceu? Falou Lívia preocupada.

 Nos sentamos e Lívia pediu para começar a falar.

-Ah minha amiga é tão difícil, apesar de manter a pose estou destruída por dentro. O Gustavo às vezes fala coisas sem sentido, eu estou com saudades do meu filho e por ultimo tenho muitos inimigos. Mesmo sendo meu primeiro dia estou muito exausta.

-Amiga por que você não desiste dessa coisa de vingança?

 -Jamais.. Falei convicta.- Isso é tudo pelo qual ansiei durante anos, passei um ano inteiro chorando por causa desse povo, se eu perdi tudo foi por causa deles.

-Vingança não vai trazer seu passado de volta, agora é superar.

-Mas com isso irei me confortar e sei que justiça será feita.

 -Bia minha amiga cuidado, cuidado para você afetar e acabando machucando as pessoas que gostam de você.

-Jamais farei isso minha amiga..Falei olhando para ela.

-Nunca se sabe do destino minha amiga, você é prova disso.

 Ficou um clima meio ruim depois dessa conversa, mas logo depois estávamos conversando e esquecemo-nos desse assunto.

-Amiga eu vou ir embora.

-Tá cedo amiga, quer ficar mais?

-Amiga não posso eu vim aqui hoje para fazer um convite para você.

-Que convite? Perguntei.

-Quero que você seja a madrinha do meu casamento daqui um mês exatamente com Marcus.

 Eu dei um pulo em Lívia depois dessa noticia.

-Amiga!!! Parabéns!! Fico muito feliz que vai se casar. E claro que eu aceito ser a madrinha.

-Amiga assim me emociono.    

                                

 Depois que Lívia foi embora fiquei pensativa no que iria fazer. Eu percebi que estava muito incoerente algumas coisas nessa empresa.

-Agora estou mais certa do que nunca que irei fazer isso.

 Liguei para Luana.

-Luana eu queria te pedir um favor, eu queria que você passasse o relatório da contabilidade da empresa dos últimos anos e também quero os orçamentos, notas fiscais entre outras coisas desse assunto.

-Claro chefinha.

-Ah eu queria pedir sigilo com isso. Posso confiar na sua capacidade de funcionária?

-Pode contar comigo em tudo.

   Passei horas e horas trancada dentro do escritório analisando folha por folha, fazendo calculo minuciosamente para não errar e ter certeza.

  As horas pareciam não passar para mim, mas já eram 2 da manhã e até agora estava trancada nessa sala. Os funcionários deviam ter ido embora.

   Depois de alguns minutos a mais eu descobri de tudo e mais um pouco do que desconfiava, além disso tinha provas.

-Peguei você Angélica, agora quero ver o que fará depois dessa bomba.

   Peguei meu telefone e procurei o numero na minha lista de contatos.

-Amanhã você vai acordar com todo mundo sabendo o que você é. Vamos ver quem vence primeiro.

-Alô é da editora do jornal portal Appaloosa Plains? Gostaria de fazer uma denuncia. Tenho provas todas arquivadas.